No domingo, dia de reunir a família, as ruas ficam vazias em Ragusa. O prato principal, em vez do “macarrão a bolonhesa”, é o ravioli al sugo di maiali (prometo que ainda vamos fazer um vídeo com o passo a passo dessa receita tradicional), que a mamma ou a nonna preparam desde a véspera com muito carinho.
O post de hoje é sobre algo que faz parte da cidadania italiana e, ao mesmo tempo, transcende todo o processo: gratidão. E nada melhor que um domingo tranquilo e ensolarado para relembrar todos aqueles que, como eu, foram em busca da própria origem e, através do nome de cada antepassado, reconstruíram a trajetória da família.
Como vocês, sei que a saga não começa no momento em que decidimos tirar o passaporte italiano. Tem início na infância, nas histórias que a gente ouve dos nossos pais, dos nossos avós e de outros familiares. Foi assim comigo e acredito que tenha sido assim com vocês também.
Para quem não conhece a minha história, obtive a minha cidadania quando ainda morava no Brasil, por intermédio do Consulado Italiano de São Paulo.Foram 11 longos anos de espera. E antes disso foram anos correndo atrás de documentos e certidões. Toda informação era valiosa, uma foto antiga, uma carta manuscrita, a carteirinha de imigrante, o registro de batismo...
Quando finalmente cheguei à Itália, em 2012, com apenas 20 anos, eu não tinha ideia do que viria pela frente. Sabia apenas do passado, da história dos meus ancestrais, dos motivos que os levaram a percorrer uma longa travessia até outro continente, e gostava de imaginar o que eles sentiam quando desembarcavam naquele novo mundo.
Aos poucos, dando aula de italiano para sobreviver, fui conhecendo a história de outras famílias e vendo o amor pelo nome que os descendentes de italiano carregam. Em comum havia o orgulho da força dos antepassados ao enfrentar uma vida incerta num país cujo idioma não dominavam. E, na maioria das vezes, sem ter alguém para recebê-los e socorrê-los nas coisas mais básicas: comprar alimentos, alugar uma casa, obter um documento, matricular os filhos na escola, e por aí vai.
E, de repente, aqui estava eu, na Itália, percorrendo o caminho inverso, desbravando o velho mundo, entre erros e acertos.
Quando comecei a trabalhar com cidadania, não passava de um esboço deprojeto de vida. Meu objetivo era que as pessoas pudessem contar com alguém para abrir caminho, recebê-las, orientá-las nas coisas práticas, facilitar como idioma e, claro, obter o passaporte vermelho.
A Rosso Passaporto nasceu italiana, em Ragusa, na Sicília, onde moro desde 2013. São 10 anos de história. E 10 anos ajudando outras famílias a descobrir suas origens e acolhendo cada uma delas na cidade que agora é minha também.
Então, neste domingo, dia de reunir a família, eu deixo de lado todas as preocupações para escrever este post de agradecimento aos meus antepassados, que me guiaram até aqui, e também aos antepassados das famílias que confiaram na Rosso Passaporto para acompanhá-las. Para essas famílias, a Rosso se tornou um ponto de referência, e para a Rosso elas alargaram a nossa história.
A empresa que começou tímida lá atrás é atualmente muito mais que um trabalho para mim. É uma missão de vida, como viria a descobrir. Porque o que eu faço, embora nem sempre seja perceptível, transcende o processo de cidadania ao reconstruir a narrativa de tantas pessoas e, sobretudo, ao valorizar a vida que só existe porque lá atrás duas famílias se uniram.
Por isso, agradeço à minha família e a todas as famílias que, com a força e a coragem de seus ancestrais, hoje fazem parte da história da Rosso, assim como àquelas que estão chegando e às tantas outras que ainda virão. Com a certeza de que, ao lado da Rosso Passaporto, vocês não estão sozinhos nessa empreitada!
Um forte abraço e buon inizio di settimana a tutti!
Com carinho,
Janaina